Mal comparando, Lula vive situação análoga à do sujeito que, desabituado
de olhar-se no espelho, leva uma eternidade para perceber que a mulher
casara-se com ele por dinheiro. Em sua primeira manifestação depois do
Waterloo da Câmara, o sábio da tribo do PT declarou que “uma verdadeira
quadrilha legislativa”, unida à imprensa e à oposição, “implantou a
agenda do caos” no país. O pajé acrescentou que a quadrilha “foi
comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em dois processos
por corrupção, investigado em quatro inquéritos e apanhado em flagrante
ao mentir sobre suas contas escondidas no exterior.”
Lula demorou quase 14 anos para notar que os companheiros do PP, PR,
PTB, PMDB e assemelhados coligaram-se com os governos do PT não por
amor, mas pelos mensalões e petrolões. Só agora, depois de arrombadas
todas as arcas, Lula se deu conta de que seus aliados eram traidores que
ainda não tinham reparado na sensualidade do Michel Temer. Mais um
pouco e o morubixaba do petismo vai acabar percebendo que o dinheiro da
Petrobras só saiu pelo ladrão porque o governo permitiu que o ladrão
entrasse no cofre. Sem isso, não haveria Lava Jato nem dinheiro do
Eduardo Cunha na Suíça.
Pobre Lula! Sem perceber, tornou-se um típico político brasileiro.
Grosso modo falando. Demorou quase 14 anos para reconhecer que “base
aliada” era apenas um eufemismo para “quadrilha”. Antes, Lula dizia:
“Falem-me de infidelidade que eu puxo logo o talão de cheques.” Agora,
com a Lava Jato a aquecer-lhes a nuca, os quadrilheiros exclamam:
“Falem-nos de lealdade que puxamos logo o coro do impeachment: 'por
minha família…', 'pelos meus filhos…', 'pelo papagaio…'.'' Noutros
tempos, Lula exclamava: “falem-me em rebelião que eu puxo logo um bom
discurso''. Agora, os aliados exclamam: “Falem-nos em lero-lero que nós
puxamos logo um ronco.”
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