O Ceará está na vanguarda da ESF. O Estado começou a adotar o PACS , ainda na década de 1980A
saúde mais perto da família e a humanização no tratamento dos
pacientes. Esses são os princípios do Programa Saúde da Família (PSF),
que hoje ganhou status de política passando a se chamar Estratégia Saúde
da Família (ESF), e completa 20 anos. O sistema surgiu com a proposta
de melhorar o estado de saúde da população, mediante a construção de um
modelo assistencial de atenção baseado na promoção, proteção,
diagnóstico precoce, tratamento e recuperação em conformidade com os
princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).
E o PSF
vem avançando. Muito mais que um sistema de saúde, a estratégia traz o
vínculo do médico com o paciente, fundamental para o acompanhamento das
famílias a fim de evitar a evolução das doenças e, consequentemente, as
internações e os tratamentos caros. O intuito está em fornecer o
acolhimento necessário para que o usuário se sinta valorizado, não só no
que diz respeito à resolução dos problemas físicos, mas também os
emocionais.
Para a coordenadora do Mestrado Profissional em Saúde
da Família da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Ana Patrícia
Pereira Moraes, a ESF trouxe o vínculo da população com o sistema.
"Hoje, observamos que a saúde no Brasil tem resolubilidade. É possível
ver isso por meio da redução da taxa de mortalidade infantil, da
diminuição das internações em crianças e adultos e da redução dos
atendimentos de emergência".
A evolução do PSF passa também pela
ampliação das equipes e pela criação dos núcleos de apoio à Saúde da
Família que surgem como apoios matriciais. O Ceará está na vanguarda da
ESF. O Estado começou a adotar o Programa de Agentes Comunitários de
Saúde (PACS), na década de 1980, pouco depois da pressão da Organização
Mundial de Saúde (OMS) para que a atenção primária passasse a ser o
carro-chefe. O Brasil assumiu o PSF junto com o processo de
redemocratização que preconizava a participação popular, como diz a
coordenadora. "O programa surgiu dentro de um contexto político",
lembra.
ValorizaçãoO município de
Quixadá foi o primeiro a adotar o PSF, uma lógica que começou em Cuba
por meio da valorização da atenção básica como porta de entrada para os
problemas de saúde. Em seguida, foi a vez de Beberibe receber o PSF. "A
coisa se deu do interior para a Capital. Foi então que o Ministério da
Saúde puxou para si a responsabilidade de valorizar a política", conta.
As
equipes, que devem ser compostas por médico, enfermeira, dentista e
seis agentes de saúde, atuam nas populações territórios. Mas as
dificuldades surgem em virtude das diferenças regionais. Existem
municípios no Ceará que conseguiram alcançar a cobertura de 100%, já
outros como Fortaleza só conta com 34% de cobertura, como esclarece Ana
Patrícia. Na Capital, 58% da população é acompanhada pela Saúde da
Família. São 238 equipes de ESF, sendo 101 sem médicos, 220
profissionais especialistas nos 22 postos. No Ceará, a cobertura é de
80%.
Como não poderia deixar de acontecer, as fragilidades do
sistema foram surgindo. Em primeiro lugar, está a dificuldade de manter
os médicos nas equipes que, muitas vezes, deixam o PSF para ingressar em
residências médicas. "Isso acaba quebrando o vínculo do profissional
com a família". Há de se ter uma formação, desde a universidade, voltada
para a atenção primária.
De acordo com José Carlos Albuquerque,
diretor de Comunicação do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), a
estratégia esbarra na dificuldade de manter o vínculo empregatício dos
profissionais porque os honorários pagos aos médicos não são compatíveis
com os preconizados pelo Sistema Nacional de Atendimento Médico
(Sinam).
"Não é dada a condição necessária para que o
profissional tenha dedicação exclusiva ao programa", relata. Conforme a
professora de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC),
Maria Lúcia Bosi, é um erro considerar que apenas a estrutura salva a
saúde. Antes de mais nada é preciso lutar pela qualidade no atendimento
como forma de aumentar a resolutividade dentro do que a população
espera, como pontua a especialista. "Precisamos enfrentar o desafio de
termos um saúde sustentável para todos", ressalta.
Segundo a
gerente da Célula de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde
(SMS), Lídia Costa, Fortaleza demorou muito para implantar com peso a
grande cobertura da ESF, implantado em 2000. Somente em 2006 veio a
ampliação. "Hoje a ação segue crescente e se consolida como uma
estratégia tão importante para a saúde das pessoas". No entanto, a
atenção primária é uma área que precisa de muito mais investimentos do
que se imagina. "Hoje percebemos que é fácil a saúde chegar nas pessoas
com os agentes comunitários que são os braços do SUS, mas não podemos
pensar na atenção básica sem pensar em estrutura", alerta.
InvestimentosA
partir de 2013 deve acontecer a ampliação das equipes e dos recursos
pelo Ministério da Saúde. "Trata-se de um desafio de vida de a população
a qualidade no atendimento que ela tem direito de receber", diz Bosi. O
secretário da Saúde, Arruda Bastos, cita o fato de que o PSF veio para
revolucionar a atenção básica, sobretudo no Interior.
LINA MOSCOSOREPÓRTER
PROTAGONISTA"Não fosse o PSF, não sei o que seria de nós"A
aposentada Ivone de Sousa Matos, de 73 anos, começou a sentir
complicações em virtude do nível alto de glicemia no sangue e procurou o
Centro de Saúde da Família Irmã Hercília Aragão, no bairro São João do
Tauape. Ela diz que sempre foi muito bem atendida no local e que costuma
receber os agentes de saúde em casa.
A intimidade com que trata a
médica, "Dra. Andréa", mostra o importante vínculo paciente / médico
preconizado pela Estratégia Saúde da Família. Recebe mensalmente os
medicamentos e realiza exames diariamente. Segundo ela, os profissionais
se interessam pelo seu problema de saúde. "Não fosse o PSF, não sei o
que seria de nós".
Ivone Sousa MatosAposentada